Tenho certeza que se você é brasileiro, já ouviu falar sobre inflação e aposto que morre de medo dela. Isso porque nosso país é marcado pela inflação alta, e o povo brasileiro sente na pele como ela age nas nossas vidas. Inflação é o aumento generalizado de preços de bens e serviços por um período de tempo, e ela faz com que a gente perca poder de compra. Isso quer dizer que quando a gente vai ao mercado hoje com R$100, compramos bem menos produtos do que a um tempo atrás, por exemplo, isso quer dizer que perdemos poder de compra.
No Brasil, o índice de preços oficial que mede a inflação é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), onde esse índice calcula o preço médio de uma cesta de consumo de bens e serviços de uma família que ganha de 1 a 40 salários mínimos. Nessa cesta tem diversos produtos e serviços, tanto alimentos como combustível, transporte, educação, entre outros, e ela é calculada e divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e todos os meses esse Instituto calcula a média dessa cesta em várias cidades do país para ter uma média de valor e saber se esse índice de preços aumentou ou diminuiu, mas para determinar inflação precisa ter uma elevação nos preços por um período de tempo, e não uma aumento esporádico.
Por isso, quando alguns produtos ou serviços dessa cesta caem de preço, por exemplo, esse índice pode chegar a cair, e aí você ouve nos noticiários que em tal mês ocorreu uma deflação, ou seja, uma queda na inflação, e também quer dizer que naquele mês ou período, porque a inflação pode cair num mês e aumentar em outro. Porém, isso não quer dizer que todas as famílias irão sentir da mesma forma essa queda ou aumento da inflação, porque esse impacto é sentido de forma proporcional à renda e aos gastos daquele grupo. Sendo assim, depende dos produtos e serviços que aquela família ou grupo de família de mesma renda consome no seu lar.
Pensando numa família de baixa renda que, geralmente, gasta a maior parte do seu dinheiro com alimentos, transporte público, aluguel, quando ocorrer uma queda ou um aumento desses itens na cesta de consumo, isso irá mexer diretamente mais no orçamento dessa família, do que numa família de classe alta que consomem mais outros serviços e produtos como, por exemplo, passagens aéreas, aumento do preço dos aplicativos, entre outros, fora que famílias com renda alta ganham mais, e tendem a poupar, e não gastar toda sua renda.
Nos últimos anos, estamos vivendo aumentos consecutivos dessa inflação, em 2021 o IPCA fechou o ano em 10,06%, acima da meta, e em 2022 ele segue fora da meta, vamos ver como irá fechar o ano. E isso tem ocasionado sérios problemas no nosso Brasil, como fome, endividamento, e junto a esse problema de inflação, estamos também com juros super altos e desemprego em taxas assustadoras, fazendo com que esse cenário econômico fique ainda pior. E para conter essa inflação, o Banco Central que é o responsável por fazer a inflação ficar dentro da meta que o Conselho Monetário Nacional (CMN) estipulou, tem aumentado a taxa básica de juro desde o ano passado para conter a demanda, e como vemos, isso não tem gerado muitos resultados para essa queda, e o motivo é o remédio errado para o problema e já explico o que isso significa.
Existem alguns tipos de inflação, e entender sobre elas te ajudará a analisar melhor o mercado, a entender porque o governo está tomando tais medidas, e se você é investidor e tem investimentos atrelados à inflação/IPCA, ajudará a tomar decisões. Vamos entender hoje a inflação de demanda e a inflação de oferta, e depois disso ficará claro o motivo do resultado do remédio que o Banco Central está usando para combater a inflação, não estar surtindo o efeito esperado, porque é o remédio para outro problema.
Começando a falar sobre a inflação de demanda. É quando ocorre um aumento na demanda, ou seja, quando acontece um aumento da procura por um determinado bem e serviço, mas o mercado (as prestadoras de serviços e as empresas) não conseguem dar conta desse aumento, os economistas falam que ocorre um aumento na demanda agregada, acima do produto de pleno emprego, e isso gera aumento nos preços. Isso quer dizer que o mercado aumenta os preços dos produtos para aumentar sua margem de lucro, pois tem muitas pessoas dispostas a pagarem por aquele produto ou serviço independentemente do preço. Geralmente acontece quando tem um produto ou serviço específico que toda a população está querendo ou precisando, como aconteceu com as máscaras e o álcool gel no período de pandemia ou quando a economia está em expansão, e aí as pessoas estão comprando e gastando mais, e nesse caso pode não ser um mau sinal a inflação de demanda, porque pode indicar um aumento de renda da população.
O Banco Central para ajudar a frear a demanda agregada, ou seja, fazer com que as pessoas tenham menos dinheiro em mãos para consumirem menos, aumenta a taxa Selic como medida de política monetária com o objetivo de deixar mais caro pegar crédito, e assim fazer com que a demanda caia e posteriormente a inflação também caia.
Agora a inflação de oferta é diferente, ela é também chamada de inflação de custo, e nesse caso, a gente olha para o lado da oferta, e acontece quando fica mais caro a produção de um bem ou serviço, quando aumenta o preço de algum insumo, às vezes porque alguma matéria-prima ficou mais caro, ou por alguma questão ambiental que fez perder a safra, talvez por questões internacionais como a guerra na Ucrânia. São todos esses pontos que fazem gerar uma inflação de custo que acaba fazendo com que o preço do produto final aumente, com isso, temos a sensação que estamos comprando menos produtos com a mesma quantidade de dinheiro.
O ponto que quero destacar aqui é que podemos observar desde 2021 que algumas commodities que vem de fora do país ficaram mais caras, como os combustíveis, que encarece os alimentos, e outros produtos. A questão da falta de chuvas, com a crise hídrica aqui no país que causou desequilíbrio nas safras, aumentando os custos na produção e ainda o aumento do preço do serviço de oferta de energia elétrica, fazendo as contas de luz ficarem mais caras. A guerra na Ucrânia também fez agravar todo esse cenário, assim como o custo de transportes marítimos. Todos esses fatores ocasionaram um aumento de custo na produção do Brasil e de todo o mundo, por isso, que não só o país, mas vários outros países estão passando por um processo de tensão econômica.
Isso nos leva a questionar o tipo de inflação que estamos vivendo, porque praticamente todos os sintomas que estamos sentindo é do lado da oferta, a demanda foi mexida no setor de bens de consumo, mas não ao ponto de causar uma inflação de demanda, até porque estamos com desemprego alto há um bom tempo, então a demanda não está aquecida para gerar esse aumento que impulsiona a inflação para cima.
Por isso, falei lá no início que estamos usando o remédio errado para o problema, porque mexer na taxa básica de juros para controlar a inflação de custo não causa o efeito esperado e ainda mexe com a concessão de créditos para os empresários, dificultando o crescimento dos microempreendedores e a geração de emprego.
Fontes: Seer Ufrgs, Ufrgs, No Font, IBGE,