De acordo com Silvio de Almeida (2019), há dois principais pontos que devem ser levados em consideração ao se falar sobre raça. O primeiro é que precisa-se compreender o conceito de raça/racismo para que seja compreensível todo o modelo da sociedade atual e o segundo trata que todo o racismo é estrutural.
O termo “raça” sempre teve caráter classificatório: primeiro classificava-se plantas e animais e nos meados do século XVI, seres humanos. Antes do século XVI o conceito de humano, estava atrelado diretamente ao fato de alguém pertencer a uma determinada comunidade política ou religiosa, entretanto o movimento expansionista burguês e da cultura renascentista abriu margem para que a imagem do povo europeu fosse estruturada como ápice humano. Para corroborar essa linha de pensamento, basta traçar um paralelo entre a França e a Revolução Haitiana. Sendo a França, no século XVIII, o berço do Movimento Iluminista, que pregava o uso da razão para a tomada de decisões, promovendo mudanças políticas, econômicas e sociais tendo como pilares: liberdade, fraternidade e igualdade foi a mesma nação que no século seguinte ao levar a “civilização” para os “povos primitivos”, levou consigo um processo de destruição de culturas, de sociedades e morte. Isso levou a Revolução Haitiana, onde a população negra e escravizada foi a luta para que as promessas fundamentais da Revolução Francesa, liberdade e igualdade, fossem também estendidas a eles tal qual foram estendidas aos franceses durante o movimento Iluminista.
Para Almeida (2019), o principio da discriminação é o poder, ou seja para ela ocorrer é necessário que determinada raça tenha a possibilidade de uso de força sobre a outra, podendo ocorrer de duas formas: direta e indireta.
A discriminação direta seria o repúdio sintomático a indivíduos ou grupos sociais, motivado pela condição racial dos seus integrantes, como é o que ocorre em alguns países que proíbem a entrada de judeus, árabes ou mulçumanos.
Já a discriminação indireta é um processo que acontece de forma mais sútil e pouco percebido, ele ocorre quando a situação específica de grupos minoritários é ignorada, ou quando são criadas regras de “neutralidade racial”, sem que seja levado em consideração a existência de diferenças sociais significativas, um exemplo dessa atitude foi o cartaz utilizado em um jogo com os dizeres “"White Lives Matter - Burnley" onde era ironizado o assassinato de Jorge Floyd nos Estados Unidos.
Tais práticas ao longo do tempo culminaram em uma estratificação social, onde todo o percurso de vida dos membros de um grupo social, incluindo a possibilidade de mobilidade social, profissional e de auto sustento, é afetado.
Embora a população brasileira seja atualmente constituída por mais de 50% de negros e pardos (IBGE 2019 Pnad) essa parcela da população ainda não tem a devida representatividade dentro do mercado de trabalho.
Analisando o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2007-2008, pode-se observar a enorme discrepância entre os níveis de ocupação da população economicamente ativa (PEA) preta e branca. A PEA branca, tanto homens quanto mulheres, com ensino superior completo representavam em 1995 8,7% do mercado de trabalho, saltando para 13,5% em 2006, um aumento de 4,8%, já PEA negra com ensino superior em 1995 era constituída de 1,9%, em 2006 teve um singelo crescimento de 1,8%, indo para um total de 3,7% de negros com ensino superior no mercado de trabalho. Ou seja, embora a PEA negra tenha obtido crescimento na ocupação com ensino superior completo, ela apresenta um crescimento 2,6 vezes inferior a PEA branca no mesmo período, e seu índice total é ainda inferior a PEA branca no ano de 1995, logo podemos constatar que a PEA negra com graduação superior está, ao menos, onze anos atrasada em relação a PEA branca com a mesma escolaridade.
O relatório feito pelo Instituto Ethos, Perfil Social Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas, explicita o afunilamento hierárquico que há no mercado de trabalho, que já acontece em posições anteriores a de estágio como demonstra o quadro abaixo.
Quanto maior o nível do cargo maior é a discrepância, principalmente em cargos de supervisão e acima, e menor é a incidência de negros. A eficiência do afunilamento hierárquico é tanta que em um país com mais de 50% da população constituída por negros a diferença entre brancos e negros é de 90,1% em cargos de gerência, aumentando para 94,2% para o quadro executivo e culminando em 95,1% para o conselho de administração. Essa análise se torna ainda mais excludente quando analisada pelo prisma da mulher negra que é ainda mais desfavorável, sua participação em cargos de gerência é de 1,6% caindo para 0,4% no quadro executivo.
Algumas empresas têm começado a criar vagas afirmativas para a população preta, e embora a Magazine Luiza sendo uma das primeiras grandes empresas a abrirem um processo de Trainee específico, tenha sofrido diversas acusações de inconstitucionalidade e “racismo reverso”, uma falácia para encobrir o racismo, porém no final a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal declarou não só o ato como constitucional, louvável e incensurável e isso refletiu positivamente para os acionistas, com um aumento no preço das ações.
Embora o consumidor não seja inclinado a buscar informações sobre porcentagem de negros em cargos de liderança, uma pesquisa realizada pela Refinaria de Dados ao ter acesso a esse tipo de informação, como é o caso Magalu, o consumidor muda, adotando uma postura positiva e mais engajada nesta causa social, o que reflete uma mudança na sociedade, onde o todo tende a se tornar mais plural e preocupado com a parcela que acaba sendo mais excluída e marginalizada.
Ao correlacionar o levantamento feito pela Revista Fortune onde as ações das 50 empresas americanas consideradas modelo de diversidade, obtiveram um desempenho bem superior à média do mercado de capitais com a pesquisa do Instituto Ethos, onde foi verificada que em mais de 50% dos casos, as empresas social e ambientalmente responsáveis também são bem sucedidas financeiramente.
Dado a propensão dessas informações, tanto nacionais quanto internacionais, podemos concluir que promover a diversidade dentro e fora da empresa é uma alavanca para impulsionar o desempenho financeiro das empresas e captar capital estrangeiro.