A conectividade digital revolucionou a forma como vivemos e nos comunicamos. O império de dispositivos eletrônicos e a explosão das mídias sociais na última década romperam com antigas barreiras de tempo e espaço, acelerando interações ao redor do globo. A partir dessa revolução digital, um novo modelo de mercado se consolidou na contemporaneidade: a economia da atenção. Mas como ela funciona?
Qual é o preço que pagamos pelo uso das redes sociais?
O tempo que os usuários passam conectados é um bem altamente cobiçado pelas grandes corporações, que são clientes ativas das mídias sociais. Elas financiam a exibição de suas marcas e interesses por meio de anúncios e publicações pagas. Quando os usuários visualizam ou engajam com esses conteúdos, as empresas se aproximam do lucro almejado. Assim, quanto mais tempo os internautas passam conectados, maior é o potencial de conversão, já que eles serão expostos a mais incentivos diretos e indiretos de compra.
Para prender ainda mais a atenção dos usuários, as mídias sociais aprimoram constantemente seus sistemas e algoritmos, personalizando as distribuições de conteúdo para cada um de nós. Para isso, as plataformas investem alto em estudos de neurociência, psicologia comportamental e gamificação. Tudo é ‘nanometricamente’ calculado para fazer com que o internauta passe o maior tempo possível navegando entre posts e anúncios.
Em seu livro 24/7, Jonathan Crary afirma que “o tempo para o descanso e a regeneração dos seres humanos é simplesmente caro demais para ser estruturalmente possível no capitalismo contemporâneo”. Por isso, mesmo em nossos momentos de descanso e lazer temos dificuldade de sair desse looping. Afinal, quem é você perante a sociedade quando não está produzindo ou consumindo algo?
Com estímulos visuais e sonoros constantes, as mídias sociais funcionam como máquinas caça-níquel. O próprio formato de rolar o feed se assemelha aos jogos de cassino. As redes fazem com que o usuário passe a esperar por um prêmio - uma menção, uma curtida… Quando isso acontece a dopamina é liberada no cérebro e iniciamos uma corrida em busca de mais. Insaciáveis, entramos em um looping de pequenos prazeres momentâneos. Repetindo essa prática, podemos entrar em um ciclo vicioso, que a longo prazo não será benéfico nem para nossa saúde mental, nem para a nossa vida financeira.
E todas essas interações têm uma funcionalidade: elas são convertidas em dados. Visualizações, buscas, curtidas, compartilhamentos…Tudo isso gera padrões de uso que avaliam nosso comportamento, potencial de atenção e, por conseguinte, de
compra. Os algoritmos resultantes variam de acordo com cada plataforma, e a maior parte de suas programações não são 100% abertas ao mercado.
Alguns especialistas, como Shoshana Zuboff, apontam que a conversão de comportamentos em dados faz parte do ‘capitalismo da vigilância’, que reivindica a experiência humana como matéria prima gratuita para práticas comerciais de extração, previsão e venda de comportamentos. Assim, as automatizações não só podem aprender com nossos hábitos e anseios, mas também podem moldá-los, o que fomenta debates acerca da privacidade na internet.
Com cada vez mais pessoas conectadas, as corporações tiveram que repensar o modo como conquistavam clientes e aliados. E nesse novo modelo econômico há um grupo de indivíduos que funciona como peça central no jogo: os influenciadores digitais, perfis que utilizam as plataformas modo profissional, criativo e monetizado, reunindo legiões de seguidores ao seu redor.
Mas como funciona a relação de influência nas mídias digitais? Nós vemos apenas os conteúdos e influenciadores que queremos ou aprendemos a querer o que nos é apresentado? Como tudo isso afeta o nosso bolso?
A influência não nasceu com as mídias sociais, mas ganhou uma nova configuração a partir delas. Nesse cenário, os influenciadores possuem certo poder em decisões de compra de seus seguidores, no levantamento de discussões e na inspiração de gostos. Em 2018, os influencers já ocupavam o segundo lugar como referência para compras. Hoje, já há estudos que demonstram uma queda de confiança do público.
A partir do momento em que nos identificamos com um influenciador, sentimos como se fizéssemos parte da sua realidade. Assim, mesmo de modo inconsciente, surge o desejo de adquirir bens que remetam minimamente ao seu status. Assim, os criadores de conteúdo representam uma vida que pode ser comprada por nós.
Os posts funcionam como uma vitrine, eles vendem uma realidade muitas vezes romantizada. Nem sempre temos dinheiro suficiente para viver o que vemos, mas o desejo fica em nosso subconsciente. Por isso, os influenciadores são uma ferramenta estratégica para o mercado: são um investimento em reputação e credibilidade de forma humanizada. O marketing de influência é quem estrutura essa relação entre empresas e criadores.
É claro que existem incontáveis nichos e tipos de influenciadores, e nem todos possuem uma abordagem puramente comercial. O intuito aqui não é apontar a profissão como problemática, mas estimular um pensamento crítico sobre quem e o que nós consumimos online, sobre como a economia da atenção se fez tão próspera em tão pouco tempo e em como isso afeta a nossa realidade.
Muitas vezes não nos damos conta de que certos conteúdos e anúncios criam em nós falsas necessidades de consumo. Portanto, é necessário sempre analisarmos nossos próprios desejos e comportamentos para estar minimamente no controle do que consumimos e gastamos. Quando não desenvolvemos essa consciência nos tornamos mais suscetíveis a dívidas desnecessárias.
São perguntas simples que fazem a diferença, como “será que eu realmente preciso desse produto ou fui induzido a querê-lo depois de ver tantos anúncios?’ ou ‘por que toda vez que eu entro nesse perfil eu acabo com vontade de colocar meu dinheiro em casas de apostas?’. Às vezes, fazer uma limpa nas redes sociais ou ficar offline por uns dias pode nos fazer economizar muito mais dinheiro do que imaginamos.
Ainda sim, não existe uma fórmula mágica para lidar com as novas tecnologias. O mundo digital é uma vertente recente da história, e seus bons e maus usos estão sendo construídos neste momento. Então, que tal começar a assumir o controle da sua vida financeira fazendo essas pequenas mudanças no agora?
Artigo baseado em “SANTIAGO, Isabela. Futuro do presente: uma análise do slow content enquanto proposta de modelo alternativo para a produção de conteúdos em mídias digitais. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2022. (Monografia de Graduação.)”