A população de baixa renda é o pedaço da sociedade brasileira que suporta não somente os desafios dos altos e baixos financeiros diariamente que estão ligados à sua condição, como também são alvos do desemprego e das falhas do governo com saúde, educação e economia. Sendo assim, à medida que entendemos que existe um problema estruturado nesse grupo, conseguimos também visualizar que se torna uma situação desafiadora pensar, organizar e planejar para que uma rescisão que chega nas mãos de um indivíduo de baixa renda seja capaz de se prolongar até que ele consiga um novo emprego ou fonte de renda.
Em primeiro lugar, é necessário entender o que está previsto pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em relação à rescisão contratual de um modo geral. Normalmente, o vínculo com a empresa é desfeito através da demissão por justa causa ou sem justa causa, podendo ser também um pedido de demissão vindo por parte do empregado que solicita sua saída e recebe por seus direitos. Em alguns casos, ocorre o comum acordo entre o empregado e o empregador para que, através das regras previstas por lei, consigam romper o vínculo onde ambas as partes concordam em uma demissão sem justa causa. Dentro de todo esse processo de rompimento, o empregado demitido sem justa causa, com ou sem acordo, poderá ter o seu acesso ao FGTS referente ao seu tempo de trabalho naquela empresa e também poderá ter o direito de dar entrada no auxílio desemprego fornecido pelo governo.
Conforme a lei, o FGTS existe com a função de garantir que o trabalhador possua um fundo de garantia caso seja demitido de uma empresa sem a justa causa, garantindo uma reserva financeira que será descontada e depositada mensalmente pelo empregador em cima do seu salário bruto. Caso o trabalhador seja demitido por justa causa ou realize um pedido de demissão, o saldo do FGTS ficará impossibilitado de ser sacado. O auxílio desemprego ou seguro-desemprego, por sua vez, foi criado como o maior dos direitos trabalhistas para cumprir com sua função de ser um apoio financeiro para o trabalhador que cumprir com seus requisitos, não incluindo trabalhadores que foram dispensados por justa causa, através de uma renda calculada em cima dos salários anteriores podendo ser paga em três até cinco parcelas.
Enquanto a economia do país atravessa novos cenários, a população sente todas as alterações no seu ritmo de vida. Quando comparamos uma pessoa que precisa se sustentar ou carregar o sustento de uma família com um outro indivíduo que não precisa se preocupar com a mesma realidade, podemos encontrar novos olhares para esse ponto de vista. Embora haja um quadro de diferenças de vida dentro de um mesmo grupo de baixa renda, os usos dos recursos financeiros serão sempre determinados através das maiores necessidades físicas e mentais daquele momento.
Buscando a melhor forma de transformar essas palavras em exemplos claros, foi realizada uma pesquisa com 08 pessoas distintas de baixa renda, com faixa etária entre 21 a 35 anos, que já estiveram sob casos de demissão e mesmo trabalhando atualmente em algum emprego de carteira assinada compreendem de formas completamente diferenciadas sobre o que fazer, aonde investir e sobre o que é o recurso financeiro que vem de uma rescisão contratual.
Dentre os 08 escolhidos para a pesquisa, observamos que todos compreendem sobre o que se trata uma rescisão contratual, porém nem todos conseguiram se manter financeiramente até arrumar um novo emprego ou precisaram quitar dívidas e guardar o suficiente para sobreviver. Grande parte desse público também afirmou que gastou os recursos financeiros através de compras e até mesmo entretenimento de forma exagerada e que se fossem demitidos novamente, nos dias atuais, seus planos seriam outros porque conseguiram amadurecer após a experiência anterior. No geral, 80% confirmou ter objetivos profissionais para realizar e que estariam dispostos a fazer investimentos, mas que esse caso não se aplica a um recurso de rescisão.
De certa forma, existem muitas questões particulares quando se considera esse tipo de assunto, tendo em vista que uma boa parte da população trata
uma quantia de dinheiro que equivale a receber três vezes ou cinco vezes a mais do seu salário com um olhar de grandeza, enxergando a rescisão como um “salário bônus” e destinando seus gastos de forma irresponsável quando se sentem seguros o suficiente para isso. Outros, quando carregados de responsabilidades maiores, necessitam medir e planejar cada pedacinho desse dinheiro para evitar a escassez.
Em alguns casos, parte dessas pessoas usam essa quantia para realizar um sonho, como viagens, compra de imóveis ou de automóveis ou bens materiais diversos. Por outro lado, outros podem seguir caminhos opostos tentando investir em abrir uma empresa ou investir em um curso, porém normalmente esses últimos ficam em segundo plano na maioria das vezes. Quando se trata de uma população de baixa renda, deve-se atentar que se trata de um conjunto de pessoas que possuem a mente e a realidade conectadas ao sentimento de escassez devido às condições financeiras que fizeram parte de suas histórias, e assim ao ter contato com a possibilidade de proporcionar algum luxo ou conforto para si mesmo ou para sua família, o indivíduo irá priorizar seus ganhos em cima dessa realização.
Sendo assim, ao pensar em um novo caminho, existem algumas alternativas de sucesso para contornar esses casos. A primeira delas é realizar um planejamento financeiro que será essencial para saber como irá destinar melhor o dinheiro, desviando de gastos desnecessários, em sequência, é recomendável também criar uma reserva financeira para que haja uma segurança maior em caso de rompimento de contratos. Outra opção também pode ser a realização de investimentos em cima de bens que tragam excelentes retornos, evitando assim os gastos desnecessários.
Por fim, devemos compreender que a raiz de todos os casos vividos de formas diferentes para quem precisa ou já precisou lidar com uma rescisão passam pelo problema estrutural que a sociedade brasileira está inserida. Tudo se inicia na educação, onde o indivíduo não tem o preparo e nem a oportunidade de ter contato com a educação financeira em sua fase de estudos e termina nas experiências difíceis que chegam ao longo da vida, tendo os altos e baixos financeiros e aprendendo sozinho a lidar com isso. Dentre todas as propostas para contornar essas possíveis situações, o caminho mais ideal é a educação financeira pelo longo da vida, sendo a forma mais eficaz de se ver com tranquilidade e contornar as incertezas quando não for mais um desafio assinar uma rescisão contratual ao se desligar de uma empresa.